Como muitos sabem, faço parte de uma Equipe Gástrica Especializada em Obesidade (EGEO), onde acompanho dezenas de pacientes de pré e pós operatório de cirurgia bariátrica. E com a avaliação de tantos pacientes, algumas perguntas são bastante frequentes nessa prática clínica, sendo o questionamento sobre "qual o período para liberação da ingestão de bebidas alcoólicas no pós-operatório" é o mais comum.

E para não te deixar curioso (a) sobre esse tempo, o prazo mínimo para a liberação das bebidas é de aproximadamente 6 meses. Contudo, esse período pode oscilar muito entre cada paciente, já que vários outros fatores deverão ser considerados antes de qualquer conduta tomada. Por exemplo: caso o paciente apresente algum histórico familiar de alcoolismo, se já teve diagnóstico e/ou passou por tratamento de alcoolismo, se não está apresentando resultados tão satisfatórios pós-operatório, se apresenta algum déficit nutricional ou sintomatologia que estão relacionadas a determinados déficits, se apresenta alguma condição psiquiátrica, se faz uso de algum fármaco que contraindique esse consumo, dentre vários outros fatores, o indivíduo poderá ficar muito mais tempo ou até mesmo ser "proibido" de retomar o consumo de bebidas alcoólicas.
É importante salientar que o álcool tem sua absorção, metabolização e efeitos bastante alterados após a gastroplastia. Seus efeitos acabam iniciando muito mais rapidamente, além de poderem ser mais acentuados, facilitando um maior risco de desenvolvimento de alcoolismo se o paciente não mantiver um acompanhamento profissinal, reforçando aqui a psicoterapia.
E ainda, o álcool possui cerca de 7kcal por grama, ou seja, 3kcal a mais do que os carboidratos e proteínas e apenas 2kcal a menos do que as gorduras. E isso sem contar que muitas bebidas alcoólicas possuem outros ingredientes que deixam a sua densidade calórica e tolerância ainda maiores, podendo limitar muito a evolução do tratamento da obesidade e aumentando risco de reganho de peso em médio/longo prazo.
A bebida alcoólica tem uma forte influência na redução e metabolismo de algumas vitaminas, principalmente as do complexo B e, mais fortemente a tiamina (B1), podendo trazer consequências clínica negativas ao indivíduo (incluindo também a uma perda maior de massa muscular pelo fato de o álcool ser um limitador da síntese proteica muscular).
E ainda, sua ação no sistema nervoso central que, como disse acima, é acelerada e potencializada, atrapalha muito na capacidade de tomada de decisões do indivíduo. Esse efeito pode fazer com que o paciente realize escolhas alimentares ruins e se coloque em situações de risco, aumentando incidência de dumping (síndrome ocasionada por um conjunto de sintomas que ocorre devido a rápida passagem de gorguras e carboidratos do estômago para o intestino), além de facilitar com que seu consumo calórico aumente, limitando ou até mesmo impedindo a perda de peso.
Desta forma, o ideal é que o paciente que tenha realizado a cirurgia bariátrica não volte a ingerir bebidas alcoólicas e mantenha seu estilo de vida e hábitos alimentares o mais adequado possível para que a obesidade tenha o controle correto. E se mesmo assim a bebida for retornar ao cardápio, é importante que o acompanhamento com o clínico/cirurgião, nutricionista e psicólogo se mantenham em dia.
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