SONO E GANHO DE PESO
Pode até parecer uma extrapolação, mas um sono de má qualidade ou insuficiente pode fazer com que fiquemos mais propensos a comer mais, apontam os resultados de algumas pesquisas. E existem justificativas fisiológicas/hormonais para isso, sendo que o sono ruim favorece o aumento da produção de hormônios que estimulam a fome, assim como reduz a sensibilidade/ação daqueles hormônios que tem o papel de reduzí-la. Há ainda dados surgindo demonstrando que essa alteração no sono pode mudar, inclusive, questões relacionadas a digestão e absorção dos alimentos, como por exemplo, fazer com que o indivíduo “extraia” mais energia dos alimentos consumidos. Tais alterações é o suficiente para piorar o metabolismo da glicose nos pacientes, ou seja, “piorar” o controle da glicemia ao longo do dia pela redução da sensibilidade à insulina.
Vida moderna
A piora da qualidade do sono é uma das queixas mais comuns em consultório, o que pode ser justificado pelo estilo de vida moderno. O sono é influenciado por inúmeros fatores e o pesquisador Christian Benedict, da Uppsala University, que liderou um dos estudos das referências abaixo, disse que a causa subjacente do aumento do risco de obesidade pelo distúrbio do sono ainda não está clara, embora acredita-se que ela possa ser causada por mudanças em apetite, metabolismo, motivação, atividade física, ou uma combinação de vários fatores. E como bem sabemos, todos esses fatores conversam de alguma forma com a massa corporal do indivíduo e, caso desregulados, maior risco de ganho de peso.
O pesquisador e seu grupo que já realizaram diversos estudos sobre o efeito da perda do sono no metabolismo energético, perceberam que com o prejuízo do sono, homens de peso normal preferem alimentos em grandes porções, buscam por mais calorias, exibem sinais de impulsividade relacionada a alimentos, sentem mais prazer com a comida, e gastam menos energia.
Hormônios famintos
Os estudos indicam que a perda do sono altera o equilíbrio de hormônios que promovem a saciedade, como o peptídeo 1 semelhante ao glucagon intestinal, e aqueles que promovem a fome, como o hormônio estomacal grelina. A restrição do sono também aumenta os níveis de endocanabinoides, que também estão associados ao apetite, sugere os achados. Os pesquisadores dizem que a perda do sono também afeta o equilíbrio das bactérias intestinais, o que tem sido amplamente implicado como um fator-chave para a manutenção do processamento de alimentos em energia pelo organismo.
Portanto, ao falarmos de excesso de peso, devemos enxergar o indivíduo e tratá-lo em sua integralidade, visto que nossa saúde depende da relação de uma GRANDE variedade de fatores modificáveis (exercícios, dieta, avaliações regulares de saúde) e não modificáveis (genética). Então, além da preocupação com a mudança do hábito alimentar, estilo de vida, é importante valorizarmos a qualidade do sono do paciente. Caso isso não seja realizado, acredite, é possível que o paciente entre em um ciclo vicioso de difícil saída. Dorme mal, aumenta a fome e piora seus aspectos psicológicos, aumenta o consumo de alimentos mais calóricos, ganha peso, o que favorece a apneia e outros distúrbios do sono e o ciclo se repete.
Além disso, o sono ruim já é considerado um dos fatores de risco para obesidade, segundo uma revisão publicada no periódico Obesity Reviews.
Vamos valorizar nosso sono?
Fontes:
Y. Fatima; S. A. R. Doi; A. A. Mamun. Sleep Quality and Obesity in Young Subjects: A Meta-Analysis. Obesity Reviews (2016).
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